Desabafo do leitor: “FPI dizima sertanejos”
   1 de junho de 2015   │     13:36  │  9

Transcrevo, na íntegra, o apelo feito pelo leitor Marcelo Alencar nos comentários deste  blog:

“Edivaldo você que tem ligação com os produtores alagoanos, ajude-os!
A FPI São Francisco está dizimando com o que resta da economia sertaneja. É um pega e esfola nunca visto por essas bandas. A imprensa anuncia a prisão de dois donos de laticínios (um de Olho Dágua das Flores e outro de Batalha) e o governo de Alagoas, ao invés de financiar melhorias técnicas e assessorar os produtores, participa ativamente com seus órgãos (IMA, Adeal e Sefaz).
Conheci um senhor que tinha, há mais de 40 anos um papagaio, que teve que entregá-lo ao Ibama sob pena de ser preso. Ele, a esposa e filhos estão enlutados com a perda e choram abundantemente por sol a sol”.

O que penso

Outro dia escrevi aqui que é desproporcional, desumano até, o uso da força do Estado – no seu sentido mais amplo, não só como governo estadual ou federal – em operações semelhantes a FPI São Francisco. E de fato é.

Pequenas cidades ou comunidades que nunca receberam uma fiscalização, muito menos uma ação educativa, são literalmente invadidas por uma força tarefa formada por “doutores” de tudo que é órgão. Batalhão Ambiental, MPF, MPE, IMA, Adeal, ministérios, secretarias etc etc etc.

A força tarefa passa e deixa para trás o problema.

O que eles fecham? Pequenas avícolas que empregam uma família (a do dono), casas de farinha que dão sutento a pequenas comunidades rurais ou fabriquetas de queijo, que funcionam há várias decadas. Lacram e vão embora.

As comunidades que já não tinham saúde, educação, segurança, agora ficam sem parte de sua fonte de renda e de sustento de centenas e centenas de família.

É a lei, dizem. E eu pergunto, que lei?

Porque não “fecham” o riacho Salgadinho, em Maceió? Porque não acabam com as “línguas sujas” nas nossas praias? Porque não garantem o direito pleno a saúde ou a educação?

Onde está a lei que assegura a compra da merenda escolar aos agricultores familiares e não é cumprida? Onde está que garante ao cidadão o direito a justiça e a segurança? Lazer, cultura, esportes??????

Onde está a lei que vê, mas não faz nada efetivamente para acabar com a “manhca” do rio São Francisco?

O estado que cobra e pune é o mesmo que deve. E como deve. Ainda assim, é a lei!

É a lei que fecha matadouros, ainda que precários, mas deixa para a população a opção de pagar mais caro ou de comprar carne de animais abatidos clandestinamente embaixo de árvores.

É a lei que tira produtores, muitos deles “homens de bem” trabalhadores da informalidade e os joga na clandestinidade. Multas de R$ 50 mil, de R$ 30 mil, prisões… É a lei agora fazendo a festa de advogados e alimentando favores políticos.

E que lei é essa que tira um papagaio que vive há 40 anos com a mesma família? E farão o quê com esse animal? De volta a natureza?  É improvável, senão impossível. Tão improvável e tão impossível quanto acreditar que esse tipo de operação fará – além de render alguns bons espaços na mídia para os agentes pújblicos envolvidos –  algum bem paras as cidades e comunidades visitadas.

 

 

 

 

 

COMENTÁRIOS
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  1. selma

    Sei que nunca fui visitada por nenhum desses órgãos,sei tbm que nunca matei, nem roubei para que mim usassem como refém, fui pressa por um crime que não existiu, e a conversa era se não prender ela ,levo quem, tentaram com que eu deixassem meu filho ir para cadeia a te que o pai chegasse de viagem, depois eu disse que não, Eu ia , fique presa passei uma noite e um dia só fui liberada com a decisão do juiz , com tudo que aconteceu não estamos em uma democracia e sim em uma Ditadura , Se a própria operação por se diz que é PREVENTIVA porque comigo foi diferente,hoje fazer vinte e dois dias, corro o risco dos meus animais morrerem aqui em meu sitio já que fiquem sem trabalho, toda minha família sem ter onde trabalhar, discordo quando falam que eu recebia visitas e orientação, nunca , a primeira vez que chegaram foi para acabar comigo :Uma multa de 60.000 , e uma cadeia, Será que vale apenas ser honesto e trabalhador desse sertão???

  2. Celso Tavares

    Caríssimos,
    Participei da FPI e em nenhum momento houve manifestações de desrespeito ou truculência por parte da equipe. Não participaria dela se isso pudesse ocorrer.
    Quem ataca a FPI tem boa fé, está mal informado ou defende um STATUS QUO que mantém nossos sertanejos na penúrias. Temos relatórios que descrevem situações amorais de desrespeito à pessoa humana, ao cidadão e ao contribuinte. Ressalto que As equipes fotografaram e filmaram todas as ações e que há fotos que atestam a importância da ação da FPI. Os ataques também denotam total desconhecimento do que é a Fiscalização Preventiva Integrada, o que é imperdoável.
    Na audiência pública, os primeiros oradores, com apoio de grupos que pouco depois se retiraram do recinto da reunião, atacaram a FPI com uma virulência surpreendente. À medida que nossas Equipes apresentaram os resultados, a farta documentação fez com que eles mudassem o tom, pois nada como uma boa imagem para desqualificar um discurso impertinente.
    Os membros da FPI foram aplaudidos e receberam o apoio da população. Isso é fato. A operação foi planejada e não nos permitiríamos participar de situações que fugissem daquilo que preconiza a Lei e os nossos princípios, ofendendo aqueles que vivem em situações desumanas.
    Não temos, porém, como lutar contra os boatos e as mentiras: foi divulgado que estaria proibido o uso de bois na tração de carros ou de burros nas carroças. Tremenda estupidez, pois diversos diplomas legais permitem que isso ocorra normalmente, desde que o animal receba bom trato.
    Os que se manifestaram contra, procurando o apoio do Governador, deputados federais e estaduais, defendem seus interesses. É lícito informar que eles vêm recebendo visitas e orientações há anos, conforme documentação existente nos diversos Órgãos. O que fizeram nesse período? Debocharam do do Estado e da Sociedade. Assim, ninguém pode reclamar que faltou orientação, uma abordagem educativa etc. Tudo foi tentado, mas em vão, pois confiam na ausência do Estado e no entorpecimento da Sociedade
    Cumpre por em relevo que, no caso dos laticínios, por exemplo, toda essa ‘chiadeira’ parte dos 20 % das empresas que teimam em se manter à margem do que estabelece a Lei. Os 80% restantes já se adequaram às normas ou já estão prestes a cumpri-las.
    Na minha Especialidade, Doenças infecciosas, já vi de tudo, mas nesses dias fui surpreendido! Duvido que as pessoas que estão tentando desmoralizar a FPI conseguissem comer ou beber alguns dos alimentos apreendidos após visitar o local onde são produzidos.
    Respeitosamente,

    Celso Tavares
    Médico Infectologista e de Saúde Pública
    Mestrado na FSP / USP
    Doutorado no CPqAM / FICRUZ
    Em tempo: sem alarde, percorro o Estado desde a década de 1980, participando dos cursos ministrados pela Equipe do velho HDT, o Dona Constança, hoje Hospital Helvio Auto e, hoje, através da Secretaria de Estado da Saúde e do Conselho Regional de Medicina. Não sou, portanto, um iniciante nessas questões, incapaz de discernir a justa medida para cada situação.

  3. Júnior

    Tenho certeza que qualquer um que comentou negativamente sobre a FPI não teve a oportunidade de acompanhar, na íntegra, a apresentação de resultados, no dia 29, em Olho D’água das Flores. Depois de 9 horas de debates, ficou claro a importância da ação da FPI para a saúde da população e garantia do meio ambiente equilibrado. A união de esforços da FPI permitiu a fiscalização do próprio estado e de grandes degradadores, o que antes era impossível pela influência e conveniência política. A FPI é um símbolo da luta contra a cultura da miséria, tão comum no interior do nosso estado. Torço para que os senhores tenham a humildade de conhecer o programa e mudar de pensamento, lutando pelo melhor para a população alagoana e não pelo seu afundamento em pocilgas!

  4. Carlos

    Caro repórter, sua opniao foi infeliz, você precisa pesquisar a importância da FPI e o que politicos fazem com os nossos corajosos e sofridos sertanejos

  5. Diego

    Concordo com o comentário do leitor e com sua avaliação, Edivaldo.
    Em municípios como São José da Tapera, após o fechamento do matadouro, diversas famílias dos marchantes, que vivem do abate de animais, ficaram sem renda, como como os criadores que vendem suas cabeças para o abate passaram a semana sem dinheiro. Por outro lado, o açougue público também não abriu em pleno dia de feira na cidade justamente por não ter o que vender, por falta de carne para ofertar às famílias.
    É preciso dosar as coisas. Como você disse, é preciso que o Estado dê condições para que os matadouros e fabriquetas de queijo se adequem à lei, às normas sanitárias e depois dê um prazo para as melhorias. Em não sendo feitas, aí sim devem vir as advertências, depois multas e depois a interdição, como ocorre em diversas outras áreas. O fechamento da unidade deve ser a última etapa de um processo, e não a primeira.
    Outra coisa: em muitos desses locais, como você bem citou, os agricultores, empresários, donos de fabriquetas e até prefeitos estão agora dependendo de favores políticos para cancelar multas aplicadas ás prefeituras, reabrir suas fábricas e manter de volta os empregos.

    1. Pereira

      Caro colega, respeito sua opinião, mas é bom ficar claro que desde de 2008 que vem sendo feito um trabalho de alerta e de orientaçao tecnica (tem varios documentos que provam isso) E vale ressaltar que politico nenhum vai ter poder de cancelar o que foi feito.
      O politicos terão sim, que cumprir com sua obrigação e dar condiçoes das pessoas se regularizarem. Cabe ao povo cobrar. Mas cobrar de forma coletiva e nao individual para resolver apenas o proprio proplema e ficar devendo favor”. Enfim, infelizmente não é passando a mão na cabeça das pessoas que se corrice tanto erro. Uma fiscalizaçao dessas serve inclusive para tirar o poder publico da zona de conforto e agir de alguma forma. E é interesse dos politicos que as pessoas fiquem contra a fiscalizaçao. Assim eles saem de bonzinho e nao precisam fazer nada.
      Abre o olho meu povo!

  6. Pereira

    Admirava muito o seu trabalho Edivaldo, aliás, admiro, apesar de não concordar com a parcialidade de suas publicações antes mesmo de conhecer a realidade dos fatos.
    A FPI é uma operação que nada tem haver com política. É uma união de órgãos que trabalham por vários dias longe de casa, tentando evitar que um Rio, que tanto nos deu, seja destruído de vez.
    Nenhum cidadão está isento de cumprir a lei, seja ele pobre ou rico. E quanto ao sertão, quem na verdade tem dizimado (como falou o leitor) são certos políticos que manipulam a fragilidade do sertanejo. Que chega em uma audiência e fala para todo mundo ouvir que o sertanejo é burro, que nasceu assim e não tem capacidade de aprender. E o povo inocente ainda aplaudiu! Muito triste.
    Discordei totalmente, pois para mim, o sertanejo é como dizia o poeta “antes de tudo um forte”. É no sertão (e não na zona da mata) que se concentra a maior produção de leite. É lá onde se encontra bos animais da mais alta qualidade genética. Não é justo classificar esse povo como ignorante e sem perspectiva.
    A fiscalização foi punitiva pra quem estava fora da lei, e que há anos (sim, há anos!) vinha sendo alertado. E as fábricas que foram fechadas, produziam em grande escala, tanto que conseguia abastecer inclusive a capital! Laticínios cheios de mosca, pocilgas fétidas contaminando o Rio… é isso que as próximas gerações vão herdar?
    Ninguém fala que foi depois da FPI que o poder público começou a olhar para as casas de farinha e que até financiamento surgiu para que eles se regularizassem e pudessem trabalhar sem destruir o meio em que eles próprios vivem. Isso ninguém comenta.
    Não é fácil exercer a função de fiscal, é muita vezes um trabalho ingrato. Mas é esse tipo de trabalho que protege a população de produtos imundos e profissionais sem ética.
    O triste é que essa mesma população não reconhece o trabalho e ainda atira pedras.
    O mundo inteiro realmente não dá para corrigir de uma só vez Edivaldo, mas se não começarmos de alguma forma, que mundo deixaremos pra nossos filhos? O certo é certo e o errado é errado seja onde for.

  7. paulo de pedra

    concorda plenamente com leitor.ainda um estado pobre disso pagando salários e diarios absurdo para perseguiçao do povo!

  8. Luiz paulo sodré

    Esse é o nosso estado e o nosso país,esses são os nossos governantes,que propagandeia a redução de homicídios,sem nem lamentar que quase seiscentos perderam sua vida em apenas cinco meses,é lamentável Marcelo,mas essa será a nossa realidade,por muito tempo mais,

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