Um caso inédito no país: fundo de agricultores familiares de AL salva “banco” de falência
   6 de março de 2023   │     21:07  │  1

Na prática cooperativa de crédito é um banco. A diferença é que cada cooperado ou “correntista” também é dono ou “banqueiro”. E como tal está sujeita a regras do Banco Central.

Grosso modo, o que vale para Banco do Brasil, Bradesco ou Itaú também vale para uma pequena cooperativa de agricultores familiares do agreste ou sertão de Alagoas. Por regra, qualquer instituição do sistema financeiro precisa ter uma carteira de crédito no “azul” – literalmente.

Se um banco ou cooperativa de crédito não consegue comprovar que tem capacidade de pagamento no curto e médio prazos, corre o risco de entrar em liquidação – ou seja, fecha as portas – e seus diretores ou proprietários serão penalizados.

Isso já ocorreu com bancos bem conhecidos dos alagoanos, a exemplo do Produban ou nacionais, caso do Bamerindus, que tiveram sua liquidação decretada pelo Banco Central.
O Produban, que era o Banco do Estado de Alagoas, teve sua primeira liquidação extrajudicial decretada em 1988, mas o processo só foi encerrado – literalmente – 33 anos depois. Nesse período, ex-diretores e acionistas enfrentaram várias restrições.

Uma pequena cooperativa de crédito do agreste alagoano, a Coopcral, que era sediada em Arapiraca, fechou suas portas a partir de 2020 porque passou a registrar prejuízos e não conseguia mais comprovar sua viabilidade financeira.

Alagoas tem, hoje, apenas 5 cooperativas de crédito. A maior delas, o Sicredi Expansão, tem mais de 40 mil cooperados e uma carteira de mais de R$ 1 bilhão. Além dela, tem Sicoob e Cresol que funcionam de formas semelhantes – vinculadas a uma grande rede nacional de cooperativas e, por isso, tem estrutura de serviços mais completa.

Outras duas cooperativas de crédito existentes no Estado funcionam isoladamente, é o caso da Coplan, Cooperativa de Crédito dos Plantadores de Cana, instituição sólida, sediada em Maceió, que tem mais de 80 anos de “estrada”.

A outra “isolada” é a Cooperativa de Crédito Rural do Agreste de Alagoas (Cooperagre), sediada em igaci. Fundada há 16 anos, a instituição que reúne hoje 1.183 cooperados esteve á beira da “falência” – ou liquidação pelo Banco Central em 2022.

A Cooperagre, em situação semelhante à Coopcral, vinha registrando balanços com patrimônio líquido negativo. Com prejuízos registrados mês a mês e uma carteira que não dava sequer para pagar as despesas mensais, a cooperativa recebeu um “ultimato” do Banco Central em agosto do ano passado. Se não conseguisse comprovar sua viabilidade, seria fechada. Seria…

Um caso inédito – que não deixa de ser também uma feliz coincidência – ajudou a tirar a Cooperagre da “UTI” do Banco Central.

O então presidente da cooperativa, Alexandre Lima, procurou a União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária em Alagoas em busca de ajuda. Ele encontrou o presidente da Unicafes-AL, num momento único.

“Alexandre chegou para conversar com a gente no momento em que a Unicafes-AL estava preparando o lançamento do Funcafes, que é um fundo financeiro formado por cooperativas de produção para financiamento da agricultura familiar. Nós entendemos o problema e avaliamos que poderíamos ajudar a salvar uma cooperativa que tem uma história e um importante papel na agricultura familiar do agreste alagoano”, aponta.

O Funcafes foi autorizado a fazer um aporte de capital na Cooperagre da ordem de R$ 680 mil. O valor ajudou a transformar o que seria uma liquidação em uma recuperação.
Antonino lembra que o lançamento do Funcafes foi feito pelo governador Paulo Dantas e pela Unicafes-AL, durante a Expobacia Leiteira, em setembro de 2022.

“Dissemos na época ao governador que esse fundo é um importante instrumento para financiar a agricultura familiar e para fomentar projetos de economia solidária. E de fato é. Agora mesmo recebemos a informação de o plano de recuperação da Cooperagre junto ao Banco Central, que antes era de 48 meses foi reduzido para 18 meses”, aponta Cardozo.

A parceria da Unicafes-AL com a Cooperagre deu tão certo que Antonino Cardozo foi convidado para ajudar no seu processo de reestruturação. Ele aceitou a missão e nesse domingo (05/03) foi eleito presidente da cooperativa e terá Alexandre como seu vice.

“Vamos trabalhar para, em breve, transformá-la numa cooperativa de abrangência estadual num primeiro momento. Para começar, a Unicafes e todas as usas cooperativas vão abrir contas na Cooperagre. Nós também vamos cooperar a base de todas as nossas cooperativas. No caso da Coopaíba (da qual também Antonino é presidente) devemos ter entre 600 e 1,2 mil novos cooperados nas próximas semanas. Nossa meta é chegar ao final deste ano com pelo menos 3 mil cooperados na Cooperagre”, adianta.

Além disso, explica Antonino, o objetivo é ampliar a ofertas de produtos e serviços da Cooperagre, com o uso de aplicativos e novas linhas de crédito. “Pensamos, por exemplo, em lançar uma linha de crédito para de atender as mulheres que são cooperadas e que fazem parte do Bolsa Família”, afirma.

Para a expansão da rede de atendimento, o plano é abrir escritórios ou agências em outras cidades. “Queremos transformar a Cooperagre num instrumento de financiamento da agricultura familiar não só de Igaci, mas de toda Alagoas. Para isso, vamos recuperar e reorganizar a cooperativa, transformando-a numa referência para o país e mostrando que é possível sim parcerias importantes como a realizada aqui em Alagoas entre Unicafes-Al e Cooperagre”, aponta.

Assembleia da Cooperagre reuniu mais de 400 pessoas em Igaci (Foto: assessoria)

Versão oficial

Veja texto da assessoria

Cooperagre elege nova diretoria e anuncia foco na expansão do crédito para agricultura

A Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária da Cooperativa de Crédito do Agreste Alagoano (Coopeagre) oficializou, no domingo (6), a nova fase da Unidade, que atualmente opera em Igaci, atendendo também aos agricultores de Estrela de Alagoas e Craíbas. Durante o evento, que contou com mais de 400 pessoa, Antonino Cardozo, atual presidente da União das Cooperativas da Agricultura Familiar e da Economia Solidária de Alagoas (Unicafes-AL), foi eleito para a presidência da cooperativa.

O plano faz parte de um projeto de retomada da cooperativa, que voltará a consolidar suas operações plenas, conforme as ações de recuperação apresentadas pela nova diretoria e pelo grupo de Conselheiros.

Com 1.190 cooperados e fundada em 2007, a Cooperagre passará por um processo de fortalecimento em parceria com a Unicafes-AL para a filiação de cooperados de todas as cooperativas da agricultura familiar. Com a nova configuração da Cooperagre, a expectativa é que serão abertas novas janelas de investimento e multiplicadas as oportunidade de acesso ao crédito para todo Estado.

A nova proposta de administração da Cooperativa, foi aprovada por unanimidade durante a AGO, e tem como um dos seu objetivos transformar a Cooperativa em instrumento de acesso ao crédito para agricultore familiares, associações comunitárias e grupos de produtores.

Segundo a vice-presidente da Unicafe-AL, Maria José Alves, o novo momento da Cooperagre deverá contribuir diretamente para o processo de bancarização nos municípios. Em 2022, a Unicafes-AL concretizou o aporte de R$680 mil na Cooperagre através do Fundo de Apoio ao Cooperativismo da Agricultura Familiar e Economia Solidária (FUNCAFES).

“A Unicafes vai propor a filiação dos associados das nossas cooperativas para estimular a base de negócios. Estamos convictos de que a operação plena da Cooperagre vai fazer enorme diferença no crescimento do cooperativismo da agricultura familiar, que vai poder , muito mais, acessar ao crédito de investir”, enfatizou Maria José Alves.

Antonino Cardozo, novo presidente da Cooperagre, falou sobre os detalhes do projeto. “É um projeto muito focado nas necessidades produtivas das cooperativas e dos agricultores familiares. Com essa expansão pelo estado, teremos à disposição aplicativo e agências para suprir as necessidades dos cooperados”, explicou.

Nova diretoria da Cooperagre foi eleita por aclamação (Foto: assessoria)

COMENTÁRIOS
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  1. João Alfredo

    Parabéns a todos os envolvidos no processo, isto mostra com a força do cooperativismo de crédito é muito maior do que imaginamos e tem capacidade sim de afrontar o sistema financeiro brasileiro que só interessa aos poderosos.

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